"... Uma esmola pro desempregado
Uma esmolinha pro preto pobre doente
Uma esmola pro que resta do Brasil
Pro mendigo, pro indigente
Eu tô cansado, meu bem, de dar esmola
Essa quota miserável da avareza
Se o país não for pra cada um
Pode estar certo
Não vai ser pra nenhum ..."
Samuel Rosa e Chico Amaral
A muito tempo esse tema vem me incomodando nessa minha terrinha [Salvador-Ba] pelo fato de que, nos últimos tempos, tenho visto muitas pessoas nos ônibus pedido ajuda pelos filhos, pela esposa doente, pela mãe que não pode trabalhar, pelo marido que abandonou a todos...
Enfim, o número de pedintes aumentou na capital bahiana por uma série de fatores, dentre eles o fechamento de alguns manicómios na cidade e a redução de leitos em outros. Muitas dessas pessoas, a família não quer dentro de casa ou, não tem família, o que estimula com que eles habitem nas ruas.
Além disso, temos famílias inteiras que moram nas ruas de Salvador. Algumas mendigam para conseguirem ter o que comer, outras exploram suas crianças e usam do dinheiro com má-fé deixando as mesmas com fome [para uso de drogas, sendo essas llícitas ou ilícitas], tantas outras enganam a população e o governo fingindo ter deficiencias e/ou não ter condições para trabalho, para sustento próprio.
Todas as vezes que me bato com situações como essas pelas ruas da cidade, fica em mim um mistura de culpa com vontade de ajudar, de fazer melhor e a sensação de que, o que pode haver atrás daquele discurso carente. O que mais poderia haver senão as palavras pronunciadas em busca de um pouco de "dignidade", um pouco de partilha do mundo consumidor?
Por um lado, algumas vezes, quando o coração grita para que eu ajude, oferto o pouco que tenho, depois penso se, quem deveria estender a mão para ajudar eles seria eu ou o governo ao qual, pago impostos para, justamente, ajudar o país e aos habitantes do mesmo? Quando o pedinte não me comove, fico me perguntando se estou sendo injusta com ele ou se de fato meu sexto sentido está me mostrando que há algo a mais naquele discurso...
- O fato de dar esmolas também faz com que nós estejamos sustentando uma certa "mordomia" sem saber?
- Estamos tirando do governo a responsabilidade de arcar com seus problemas e tranferindo a responsabilidade?
- Estamos com isso piorando o problema da cidade e aumentando o número de pedintes?
- Estamos contribuindo para o tráfico e para o uso de drogas?
- Estamos contribuindo com a exploração infantil?
- Estamos compactuando com mentiras que contada por cem vezes talvez se tornem real?
Como responder essas perguntas? Como agir diferente e fazer diferente?
E você, o que acha?